•Exposição Individual -  Cinza, Santos / 2017

•Exposição Individual -  D.Concept Escritório de Arte, Sp / 2012

•SP Arte 2010 - D.Concept Escritório de Arte / 2010

•Residência de artista Centro Cultural Casa das Caldeiras / Setembro 2009 - Setembro 2010

•Exposição e livro obras fotográficas - Dove / Julho 2008

•Fondation Florence - Paris - Espace Commines / Novembro 2007

• Leilão de Artes Abring - Jockey Club / Novembro 2006

•Projeto Pari II "30 artistas na biblioteca S.P”/ Outubro 2006

•Individual - Casa das Caldeiras / Maio 2006

•Exposição "Verão" na Pelu São Paulo / Dezembro 2005

•Paço das Artes - D. Concept / Junho 2005

•Pari  “30 artistas na biblioteca” - São Paulo / Maio 2005

•Casa das Caldeiras- Coletiva - São Paulo / Dezembro 2004

•MundoMix. Paço das Artes - São Paulo / Maio 2003

•LuckyStrikeLab - Premio - Curitiba / Março 2003

FABULAÇÕES DE CATHERINE

Começamos pelos porém. O melhor, contra eles. Em relação às ressalvas sobre a interseção entre moda e arte, ou entre publicidade e arte, estes som universos que se retro alimentam esse canibalismo no mínimo desde Andy Warhol. Sobre o clichê do anti decorativo - segundo a qual uma obra de arte, pra ser levada a sério, tem de ser feia e, de preferência, grande demais pra caber em uma casa ou então simplesmente efêmera-, eis que a ditadura do anti (antimoderno, antiartes etc) vai dando sinais de esgotamento conceitual e estético, e o mundo da arte contemporânea volta a gozar da possibilidade de convivência é entre o feio e o lindo de encher os olhos.

 

Por último, acerca da restrição ao universo infantil como tema de arte adulta, ninguém precisa ter lido as obras completas do Freud para saber que as mais antigas vivências infantis são constantemente reconstruídas pela consciência. Quem já quis fugir de um problema na vida bem sabe o abrigo temporário que se encontra no mundo da fantasia. Evocar Freud no contexto da exposição  “Catherine la tête dans les nuages” não é acaso. Sim, trata-se de paixões aqui. Sobretudo, se trata de um mergulho nas profundezas do inconsciente, dos sonhos e dos desejos. Notoriamente, ainda pensando com Freud, sonhar é também recordar. Aqui, como na análise de profundezas, cenas primordiais não são reproduzidas como lembranças, são resultados de construção.

A ante-sala de puro sonho. Como se visitássemos o poema de Elizabeth Bishop (I wish I lived up there), um menino sonha que mergulhou na fresta descascada do papel de parede e emprede uma viagem fantástica. Passar a sala seguinte, atravessando a vila do Flávio de Carvalho, poderia ser experimentado como se acompanhássemos o menino que sonha em sua viagem. Mas lá está de novo o título da exposição, a lembrar que a cabeça nas nuvens é de Catherine. Entramos portanto, nesse universo de fabulaçoes que é tão característico da obra da artista.

 

E vemos primeiro uma coreografia de braços e mãos, que hora seguram firme a sombrinha que permite voar, ora protegem um ícone danificado. Aqui sustentam contra o céu uma nuvem de algodão-doce, ali empunham uma lança sem temer as intempéries do inverno europeu  (e mesmo tendo o resto do corpo ao abrigo do frio). Esta dança imprime o ritmo á experiência de toda a exposição, evidenciando que as fotografias de Catherine Ferraz contam uma infinidade de histórias de acordo com as inúmeras possibilidades de rearranjaá-las e reagrupa-las entre si.

 

A segunda sala é a explosão dessa potência narrativa. Espelho (2012) mostra uma represa onírica encrustada entre céu e terra aonde se desenrola uma história absurda envolvendo um cachorro é uma plataforma. Bruna e o Ratinho (2010) conta uma saga urbana de tons sombrios. Noah e a maçã (2011) encena um jogo de criança brincando de adulto em sua casa de bonecas que ao mesmo tempo é bem ruina. Uma acaso urbano que ganha um recomeço poético.

 

No canto da sala um conjunto de quatro imagem coloca uma surrealista convivência o néon de um cassino em San Martin que tinha nome de princesa, mas afirmou-se masculino quando o seu complemento feminino se apagou, com os amantes flagrados em Bali à distância por uma câmera descartável, o que conferiu qualidade impressionista à ampliação, com outro casal que teve o rosto encoberto por um incidente magritteano, e ainda com outra figura feminina que também tem a cabeça nas nuvens.

 

O canto oposto está recheado de mais aventuras e fábulas a serem descobertas pelo visitante, além de encerrar a imagem de menor formato entre todas as fotos expostas, mas que guarda, talvez, a maior carga simbólica entre todas. Ali na penumbra da sarna do acervo a obra, Maria e o Cisne (2011) nós sussurra duas das maiores verdades da vida. E que no fim e ao cabo, assim como no começo, estamos sempre sozinhos. E que o mundo interior de cada um, quanto mais rico, mais definitiva é categoricamente afugenta a solidão.

 

Juliana Monachesi

Setembro de 2012.